A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA FASCIA* MUSCULAR PARA AS DORES TRATADAS COM MASSOTERAPIA

20-08-2011 19:23

CENTRO UNIVERSITÁRIO HERMÍNIO DA SILVEIRA - Uni IBMR

CETEP – CURSO DE MASSOTERAPIA

 

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA FASCIA* MUSCULAR

PARA AS ALGIAS TRATADAS COM MASSOTERAPIA

                                                                                    Suely Tze Jú Siqueira Cavalcanti

Trabalho  apresentado  à Disciplina Trabalho de Conclusão de Curso como requisito parcial para a obtenção de grau, nível técnico em massoterapia. Orientadora Ms. Katia da Hora.

RESUMO

 

A fáscia ou tecido conectivo, como vulgarmente é conhecido, é um tecido que envolve, separa e divide o corpo, tecidos, órgãos, células, e que tem um papel importantíssimo na ligação, união e separação de todas as partes do nosso corpo. A fáscia altera de acordo com o sistema nervoso e emocional uma vez que são estes sistemas que dão ordem ao nosso corpo para agir e reagir. Da mesma forma, acidentes, traumatismos, infecções e muitas outras situações criam alterações na estrutura fascial que acaba muitas vezes por resultar em dores. A dor pode ser crônica, fascial ou miofascial. O deslizamento miofascial é uma modalidade de massagem originária nos Estados Unidos, na década de 70. Foi criada por um fisioterapeuta de nome John F. Barnes. Cansado da fisioterapia tradicional, e percebendo que nem sempre os resultados eram tão duradouros, John foi a procura de uma técnica que pudesse trazer resultados mais satisfatórios. A técnica chamada de Myofascial Release baseia-se na fáscia do músculo como função primária, para  um bom alongamento das fibras musculares.

(*)Fáscia, parte superficial na pele,que manipulada, traz resultados excelentes em relação à dor.

 Palavras- Chave: Fáscia, Miofascial, Dores, Massagem, Pompages.

 

Abstract: The fascia or connective tissue, as commonly known, is a tissue that surrounds, separates and divides the body, tissues, organs, cells, and has a very important role in the binding, separation and reunion from all parts of our body. The fascia changes according to the nervous and emotional as it is these systems that give order to our body to act and react. Likewise accidents, injuries, infections and many other situations create changes in the fascial structure that often ends up resulting in pain. The pain may be chronic, fascial or myofascial pain. The sliding myofascial is a form of massage originating in the United States in the 70s. It was created by a physical therapist named John F. Barnes. Tired of traditional physical therapy, and realizing that the results were not always so lasting, John was looking for a technique that could bring better results. A technique called Myofascial Release is based on the fascia as primary function for a good stretch of muscle fibers.

 

Keywords: fascia, myofascial, pain, massage, pompages.

INTRODUÇÃO


O presente trabalho, discute sobre a importância do estudo da fáscia para as algias tratadas com massagem, na terapia tratamento de dores em geral, as dores crônicas e qualquer tipo de algia, que por tantas das vezes são difíceis de se obter cura porque não se dá a devida importância ao tecido conjuntivo no contexto humano.

Estudos feitos, principalmente pelos osteopatas, demonstram quão importante e necessário seria, se fossem levados em consideração, a massagem do tecido conectivo. A continuidade da fibra muscular que forma o fascículo muscular, e os vários fascículos que  formam os tendões, envolvidos pelo tecido conjuntivo, demonstram que essas fáscias encontram-se inter relacionadas umas às outras formando um esqueleto fibroso, chegando-se a conclusão  que o músculo é parte da fáscia.  Segundo Bienfait, é a fáscia um conjunto membranoso, muito extenso no qual tudo está ligado e em continuidade, isto quer dizer que constitui uma  entidade funcional,  significando  que o menor tensionamento, seja ativo ou passivo, repercute sobre o organismo como um todo.

A  massagem  do  tecido  conectivo ou fáscia, foi formalizada em 1929 por Elizabeth Dicke. John F. Barnes percebeu, em 1970, que a fisioterapia tradicional nem sempre acarretava resultados benéficos para as algias. Ele foi a procura de uma técnica que pudesse trazer resultados mais satisfatórios. Através de vários estudos, criou a técnica chamada Myofascial Release baseada na fáscia do músculo como função primária, para um bom alongamento das fibras musculares.

O tecido fibroso responde às abordagens específicas da massagem no tecido da fáscia que pode reduzir a formação de aderências e cicatrizes que muitas vezes resultam de ferimentos de tecido mole.

Abordagem semelhante para o componente fascial ou do tecido conectivo dos músculos são chamadas técnicas miofasciais. Muito eficientes são os deslizamentos, movimentos arrastados, alongamentos, que provocam o “desembaraçamento” das fibras, relaxando-as. A elasticidade do tecido conjuntivo depende, unicamente de sua maior ou menor densificação.

É um tecido de ligação  que faz as trocas osmóticas, através da linfa intersticial e é uma espécie de anexo do sistema circulatório.

DESENVOLVIMENTO

Definições

  1. Fascia

            A fáscia é o componente básico do sistema músculo-esquelético do corpo que em circunstâncias normais deve ser flexível e elástico dentro de determinados valores, pois cria e mantém a estrutura de nosso corpo, abrangendo desde a cabeça até os pés sem interrupção, e envolvem todo corpo desde as células, grupos musculares, ossos, órgãos, etc. É ela o agente mecânico da coordenação motora.

A fáscia não tem sistema motor, sistema de válvulas, ou bomba cardíaca, mas possui uma circulação canalizada a fim de embeber o tecido conjuntivo, propagando-se por meio de movimentos e deslizamentos dos tecidos em relação uns aos outros. Seu líquido lacunar permeia todas as trocas osmóticas, representando 70% do conjunto dos nossos tecidos.

Através de traumatismos, processos inflamatórios, má postura, stress, cirurgias, acontecem restrições e aderências na fáscia tornando-a mais sólida e dessa forma encurtando suas fibras fasciais, criando pressão em áreas sensíveis, acarretando dores e restrições de movimentos.

É também esse processo que provoca o mau funcionamento de órgãos e músculos em geral.

A fáscia superficial é aquela que envolve os músculos. Já as aponeuroses são aquelas que recobrem os órgãos, dividem a musculatura e dão ao nosso corpo a sua morfologia.  Essas aponeuroses podem ser superficiais que é a camada externa e profunda que recebe a nomenclatura conforme sua localização no organismo.

Conhecida como tecido conectivo, é composto de colágeno e elastina, substâncias que mantém a elasticidade de toda e qualquer parte do nosso corpo, sem permitir exageros, pois o colágeno  impõem os limites de sua flexibilidade. Ela mantém a unidade de todo o corpo, por isso transmite ao longo dele qualquer problema ocasionando, muitas das vezes, a manifestação da dor longe de sua origem.

 Não existem exames médicos que detectem as alterações da fáscia, passando desapercebidas,   daí  o fato da existência de dores crônicas  que são alterações  fasciaisl ou miofasciais musculares.

Isto se explica porque se diz freqüentemente que, nada se pode fazer nas dores crônicas.  Muitas das dores de fibromialgia devem-se às dores miofasciais, e essas alterações na fáscia são difíceis de serem detectadas.

Uma mesma fáscia pode ser utilizada por vários órgãos dependendo de suas particularidades, isto quer dizer que uma mesma aponeurose, particularmente as grandes aponeuroses, fazem parte de várias cadeias igualmente sobrepostas, pois a visão das cadeias fasciais explica que elas sejam constituídas por camadas de fibras sobreposta não anastomosadas entre si, entendendo que por seus desdobramentos sucessivos possa envolver uma série de músculos de funções diferentes, transformando-se em uma aponeurose principal que comanda todas as outras.

É importante frisar que a fáscia tem a propriedade de guardar a memória da posição muscular.  A massagem pode ser aplicada nas mais diversas patologias músculo esqueléticas, desde um desportista com uma lesão muscular, até um paciente reumatológico idoso com grau de comprometimento maior.

  1. Dor

Dor é uma sensação de desconforto, que todos nós já lidamos por diversas ocasiões, e que muitas das vezes é o resultado de algo que não está bem com determinadas partes de nosso corpo. O corpo fala.

A dor pode ter várias origens, crônica, física, miofasciais, emocionais, psicossomáticas etc.

Dores miofasciais, são as mais difíceis de resolver, pois a fáscia encontra-se alterada e este é um tecido muito mais complexo de corrigir do que os problemas das dores musculares. A principal causa das dores somáticas, dores somato-viscerais ou emocionais, são disfunções miofasciais. Estima-se que cerca de 90% dos pacientes tenham disfunções miofasciais, pois têm grande agitação mental, irritação, desgaste, cansaço, incômodos, insônias e outros pensamentos e emoções desagradáveis e que após uma terapia ter-lhes aliviado as compressões e os pontos dolorosos, sentem-se muito melhores.

O stress emocional ou as emoções negativas podem ser guardados, acumulando-se no corpo por anos e acabam por provocar doenças. Quando a vida se torna mais apressada surge o stress e doenças. Tensões da musculatura paravertebral decorrentes de posturas incômodas e da degeneração precoce dos discos intervertebrais por excesso de esforço físico, é um problema que acomete grande parte da população por causa do stress.

Necessário se faz que o contexto social do indivíduo e suas reais necessidades sejam considerados, já que muitas vezes sua história de vida não é investigada por estudos de ações contínuas que visam o seu bem-estar .

Existem falsas informações sobre as dores miofasciais, das síndromes miofasciais, dos trigger points (ponto de gatilho) e da terapia miofascial. No entanto, um terapeuta miofascial pode rapidamente inativar os trigger points em pacientes, eliminando dores e problemas que se dizem sem solução.

Verifica-se, portanto, que os testes como raios-X, por exemplo, e muitos outros, não mostram as restrições miofasciais, e, conseqüentemente, o paciente não tem um diagnóstico correto sobre as causas das dores que ele sente, portanto não recebe o tratamento adequado e eficaz para seu problema.  

Massagens para a fascia

Qualquer massagem aplicada ao tecido conjuntivo afetará também os músculos em suas camadas protetoras. Embora a massagem que afeta os músculos também repercutirá na fáscia, pode-se argumentar que os efeitos da massagem miofascial podem ser mais potentes que outras formas de massagem que não tratem diretamente a fáscia.

A massagem com finalidade de relaxar o tecido muscular, também tem algum efeito reflexo sobre o tecido conjuntivo circundante. Formas profundas de relaxamento são possíveis com abordagens miofasciais uma vez que elas envolvem diretamente o sistema nervoso autônomo sendo, portanto um efeito reflexo.

Efeitos mecânicos são causados diretamente pela manipulação física do tecido pelas mãos do terapeuta. Incluem movimentos de líquidos, produção de calor, compressão, alongamento e alargamento das fibras musculares.

Quando um músculo é relaxado manualmente, mas é retido por uma cobertura tensa e tendinosa que não se move, ele é impedido de atingir sua posição de relaxamento completo. Se o músculo se relaxa, mas a carapaça protetora permanece é provável que ele volte a um estado contraído após a sessão de massagem. Se músculo e fáscia são tão interligados, porque o tecido conjuntivo não se relaxa sempre que o músculo de alonga? 

Como o tecido conjuntivo não se contrai, ele não relaxa. A fáscia é semelhante à massa de modelar que deve ser manuseada para tornar-se mais macia e flexível.  Também não relaxa por outra razão, o tecido conjuntivo não é tão vascularizado quanto o músculo; assim, o aumento geral do fluxo da circulação não tem na fáscia a eficiência ótima para trazer líquidos e nutrientes e liberar as toxinas.

Daí surgem as “pompages”. No início a técnica é realizada por um tensionamento do segmento, isto é, um alongamento lento, regular e progressivo até o limite da fáscia. O importante é manter esse tensionamento durante alguns segundos, nada mais. Ele  acarreta um alongamento dos sarcômeros e os miofilamentos de actina podem deslizar lentamente entre os miofilamentos de miosina propiciando um relaxamento, por isso o retorno desse alongamento deve ser também muito lento para não acarretar o reflexo contrátil.

Porque usar uma abordagem indireta do tecido conjuntivo? A fáscia altera de acordo com o sistema nervoso e emocional uma vez que são estes sistemas que dão ordem ao nosso corpo para agir e reagir. A dor e a possibilidade de o paciente estar convencido de que seu corpo não pode melhorar, fazem com que os receptores de dor não sejam ativados, não ocorrendo resposta. Áreas distantes do traumatismo podem ser manipuladas para promover a cura de regiões dolorosas, por exemplo, uma técnica indireta aplicada no pé, pode transmitir ondas de movimento confortável por um músculo contraído no pescoço. 

 O tecido conjuntivo enrijece com facilidade e tem dificuldade em amolecer, por isso exercícios e massagens são úteis. Através de um toque, com pressão leve ou moderada, estimula-se meios viscosos como o tecido conjuntivo, das fibras de colágeno para sua reorganização.   Focado nos locais de restrições musculares, o terapeuta busca um aumento da circulação sanguínea na região, alterações bioquímicas locais acontecem, dessa forma há um alongamento da fáscia, e por conseqüência do músculo. Seguir o movimento das fibras até sentir sua liberação. Estímulos pequenos aumentam a atividade fisiológica.  De uma forma geral a maioria das técnicas tradicionais visam o alongamento somente do músculo, esquecendo do componente fáscia. Se a fáscia não é trabalhada, o músculo retornará a sua posição original. Daí os resultados menos duradouros nas técnicas tradicionais.

Um conceito terapêutico fundamental da massagem do tecido conjuntivo é que poderia gerar efeitos em outras estruturas que são derivadas do mesmo segmento mesodérmico. Considerando-se que a patologia visceral reconhecidamente acarreta alterações nos tecidos conjuntivos da pele em zonas bem definidas, é extremamente importante o tratamento  do tecido conjuntivo  para os efeitos da massagem da fáscia.

 Nitidamente existem dois tipos diferentes de movimentos da massagem do tecido conjuntivo. Um é o movimento “diagnóstico”, e o outro, uma “técnica terapêutica”.

Técnicas manuais como apalpações, toque das mãos, são utilizadas na identificação de áreas de alteração do tecido conjuntivo que podem não estar visíveis. Estas técnicas diagnósticas são usadas de modo simétrico e bilateral, para a comparação dos dois lados do corpo. As manobras são iniciadas a partir da construção de base. A palpação diagnóstica pode evidenciar áreas bem delimitadas, unilaterais, ou edemaciadas, com uma certa rigidez ou tensão,  calor ou distúrbio na pele.

Algumas técnicas para fáscias:

 Rolinho - consiste na elevação do tecido subcutâneo, com o polegar e o dedo médio movendo todo o tecido e mantido até que se sinta o movimento da liberação da fáscia.  Com a polpa dos dedos, move-se a pele sobre as estruturas subjacentes, criando uma tração com manobras curtas e firmes no tecido conjuntivo e nas inserções musculares.

 Scraping - consiste na aplicação do polegar ou os “nós” dos dedos nas áreas ósseas e ligamentosas como se estivesse raspando gelo.

 Jostling – vibração aplicada a fim de mover o corpo até onde ele pode ir.

 Flopping – levantar e puxar em vez de comprimir.

 

CONCLUSÃO

 

Chega-se a conclusão, que, se a fáscia envolve toda e qualquer estrutura do nosso corpo, pode se compreender que a libertação miofascial colabora em quase todos os problemas de saúde, particularmente para as dores musculares, articulares, de coluna cervical, sejam elas crônicas ou não, problemas de ATM, fibromialgia, síndrome da fadiga crônica, espasmos, espasticidade, escolioses, disfunções neurológicas, articulares e musculares, situações geriátricas e pediátricas, lesões desportivas, reabilitação de todo tipo, restrições de movimento, síndromes das mais diversas, bem como quaisquer outras condições e outros problemas que aparentemente nada parece  tem haver com a fáscia.  Tudo porque se desconhece o que ela é e da sua importância na saúde e bem estar do indivíduo.

 

Tendo em vista tudo que foi discutido no presente trabalho, entende-se ser muito importante  que o profissional possa criar uma atitude de inter-relação com o intuito de superar a visão para a real prevenção e reabilitação do paciente no processo saúde, bem estar e a doença. Seria interessante que o massoterapeuta ao iniciar um cliente fizesse primeiro a liberação miofascial, para se obter um trabalho  mais eficaz, e com melhores resultados.

 

 

Referências Bibliográficas

BIENFAIT, Marcel. Estudo e Tratamento do Esqueleto Fibroso – Fáscias e Pompages. 4. ed. São Paulo, Summus Editorial , 1999.

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